A Mensagem da Cruz

Congresso da Juvep 2014

A Mensagem da Cruz

Justificação em Tito 3:1-11

Barbara Helen Burns

A fim de que, justificados por graça, nos tornemos seus herdeiros, segundo a esperança da vida eterna (Ti 3:7).

Introdução

Há anos que este texto me impressiona. Justificação é central à nossa fé, mas poucas pessoas conseguiram, ou nem tentaram, sondar as profundezas deste conceito. O que Deus fez por nós, afinal?

Este é o quarto ano que Juvep aborda a Mensagem da Cruz nos seus encontros. A Cruz é o fundamento de Cristianismo, previsto em todo o Antigo Testamento e visto claramente no Novo. É um símbolo mundial da fé cristã (apesar de proibido no Brasil para os crentes protestantes pelo Dom João VI) e faz nos lembrar do sacrifício do Filho de Deus, feito por nós. Um dos resultados deste sacrifício é justificação – a remoção da culpa do pecado e a limpeza da nossa ficha diante de Deus. É limpeza não somente da nossa ficha, mas de nós mesmos, numa transformação radical que nos dá total liberdade de interagir com o próprio Deus criador. Sem a cruz, a porta para a presença dEle está fechada. Para resolver esta separação, era necessária uma solução radical da parte de Deus – enviar Seu Filho para a morte como sacrifício, assim pagando a nossa conta e apagando nossa culpa, imputando Sua justiça sobre nós.

Palavras são bonitas, conhecidas, mas o que significa? Para compreender mais o significado, temos que entender algumas coisas fundamentais:

I. Somos pecadores!

O livro todo de Tito mostra a universalidade do pecado. É uma advertência contra o pecado na igreja, que deve se destacar como diferente na sociedade, refletindo a pessoa de Jesus Cristo.

No texto do nosso interesse hoje de manhã, versículos 1-3 descreve isso – quem éramos e quem devemos ser agora.

1. Éramos néscios.

Ser néscio é não ter cabeça, uma pessoa sem sabedoria, sem controle. No dicionário online de português é “característica de quem não possui conhecimento, capacidade, sentido ou coerência”. É um sujeito ignorante, estúpido, incompetente e incoerente. Paulo usa esta palavra também em Efésios 5:8-17. É aquela pessoa que sempre dá sua opinião para qualquer coisa sem saber os fatos. É como uma bala perdida que pode fazer muito estrago, até fatal.

2. Éramos desobedientes.

Conhecemos esta palavra desde a infância! É receber ordem e fazer o oposto, ou ignorar. Vocês sabem que em todos os textos que descrevem a cultura brasileira, a desobediência é um dos principais características? É como um teste de masculinidade, ou independência e importância. “Regras são para os outros.” Esquivamos, pagamos propina, temos “amigos”, etc. Somos desobedientes aos pais, às leis, ao governo, e, infelizmente, à Bíblia e a vontade de Deus. Pela lei secular não conhecer a lei não é desculpa. E, como temos a Bíblia em mãos, desconhecê-la não é desculpa de desobedece-la. Há ensinos claros na Bíblia que ignoramos porque sempre seguimos os nossos costumes que nos faz cegos em relação ao ensino de Deus. Isto acontece em todas as culturas, a razão porque contextualização bíblica tem que acontecer em qualquer cultura, inclusive a do missionário.

Desobediência pode ter consequências grandes ou pequenas, e é algo que vamos fazendo ao longo da vida. Pior, as vezes temos uma atitude de desobediência, um descartar constante daquilo que Deus quer ou que pessoas responsáveis sobre nós querem. É fazer pouco cso da Bíblia e a vontade de Deus. Continuamos fazendo o que achamos certo, sem levar em conta o Escrito e ensinado da parte de Deus. Significa ter uma arrogância embutida na personalidade e um total falta de espírito de aprendiz.

3. Éramos desgarrados.

“Tresmalhado”, desviado do rumo, dissoluto, libertino, pervertido (Dicionário Online de Português). Em outras palavras – perdidos, sem orientação e indo para a destruição. Não há uma linha que nos segura, um porto que nos protege. Estamos no alto mar, jogado para lá e para cá sem salva-vidas. Infelizmente muitos mestres e pastores ensinam sem preparo e sem objetivos claros, com “mensagens no joelho”, sem ter compreensão mais profunda da Bíblia ou dos ouvintes. Assim os crentes ficam sem âncoras firmes no meio dos ventos de doutrina e ondas de moda.

Temos sentido que nosso país é assim com a absolvição dos mensaleiros e a impunidade em geral. Sem justiça nas delegacias e no Supremo Corte, não há recurso maior na terra. Minha impressão, pelos comentários que não ouvi, nem piscamos o olho com isso. Passou em branco, sem reações. Estamos acostumados com a corrupção dos políticos e ricos e com a impunidade da criminalidade seríssima no Brasil. Dos 50 cidades mais violentas no planeta, Brasil tem 16, algumas no topo da lista! Qual o papel da igreja nisso? De cada crente?

4. Éramos escravos de toda sorte de paixões e prazeres.

Pode melhor descrever nosso mundo de hoje? Prostituição infantil (e alguns crentes praticam isso; não se engane!), homossexualismo (é proibido de falar que é pecado hoje, mas é condenado fortemente na Bíblia e há muita mais gente em nossas igrejas que praticam isso do que imaginamos), prostituição, pornografia (o pecado escondido de muitos pastores e líderes), infidelidade, abusos dentro do lar. A novela nos cativa, e assim estamos batendo palmas para todo tipo de infidelidade, violência e perversão sexual.

Além disso, nossa roupa nos denuncia muitas vezes. Entendemos o que é “defraudar o irmão”? Porque nos vestimos certas roupas? Roupa é definida culturalmente, com significados dos mais variados. Mas, em nossa cultura, o que significa? Porque estou me vestindo assim? É bom ver e entender os motivos, e se é com inocência, pensar na reação do outro. Veja o texto de 1 Tessalônica 4.1-8:

 No mais, irmãos, aprendestes de nós a maneira como deveis proceder para agradar a Deus – e já o fazeis. Rogamos-vos, pois, e vos exortamos no Senhor Jesus a que progridais sempre mais. Pois conheceis que preceitos vos demos da parte do Senhor Jesus. Esta é a vontade de Deus: a vossa santificação; que eviteis a impureza; que cada um de vós saiba possuir o seu corpo santa e honestamente, sem se deixar levar pelas paixões desregradas, como os pagãos que não conhecem a Deus; e que ninguém, nesta matéria, oprima nem defraude a seu irmão, porque o Senhor faz justiça de todas estas coisas, como já antes vo-lo temos dito e asseverado. Pois Deus não nos chamou para a impureza, mas para a santidade. Por conseguinte, desprezar estes preceitos é desprezar não a um homem, mas a Deus, que nos deu o seu Espírito Santo.

5. Éramos maliciosos, invejosos, odiosos.

Estas palavras são relacionadas aos nossos relacionamentos uns com os outros. O engano, maldade, esperteza em levar vantagem. Somos zombadores, com gosto picante. Queremos o que o outro tem ou queremos ser o que ele é. “Viramos a cara”, rejeitamos quem não nos agrada em uma coisa ou outra. O ódio é algo que nos destrói, e destrói o outro. É ter raiz de amargura, algo que fermenta e contamina o ser humano. É denigrar, criar confusões, fofocar.

Apesar da tristeza da raiva de alguém, na minha história, prefiro muito ter alguém com raiva do que alguém com inveja. O raivoso vai demonstrar isso abertamente, mas quem tem inveja mina ou outro. É escondido e terrivelmente eficaz!

Tudo isso acompanha mentira, orgulho, vaidade, busca de status e reconhecimento, glória própria. Porque o aluno de seminário cola? Porque não estudou e quer tirar nota. Como é o Facebook? Você é um “selfie”? Os comentários edificam?

Sem entender o pecado, que somos todos pecadores, não dá para compreender a justificação. É salvação de que? É justificação de que? Se não falamos sobre pecado e arrependimento no evangelismo em nossas igrejas e conversas pessoais, como as pessoas vão entender que precisam de perdão, salvação do castigo e remédio para concertar o relacionamento quebrado com Deus? Efésios 2.11-22 – somos separados, sem Deus, sem esperança.

Efésios 2.1-3 traz a mesma descrição forte. Presos ao mundo, as culturas, as modas, ao Diabo, ao raciocínio falso e o engano do orgulho e idolatria, o homem não tem desculpa diante de Deus. Romanos 1-3 deixa claro que todos são pecadores, do índio mais remoto ao rico no topo do governo. Por isso todos tem que ouvir o Evangelho.

II. Em Cristo somos justificados de todo pecado.

Nós não podemos nos justificar com boas obras e intenções! Jesus é o único justificador – Ele é substituto, oferta, sacrifício. Justificado significa que fui perdoado e a culpa tirada. Não preciso mais pagar pelo crime. Mesmo com crimes horríveis como homicídio, perversão sexual, ódio, malícia, fofoca destrutiva, inveja de outros, infidelidade, somos livres – totalmente livres!

Como pode acontecer isso? Tito tem a resposta.

1. O amor de Deus – sua benignidade (vs 4). Não é só que Deus é amoroso em si por natureza, mas que Ele NOS amou – amou os homens e as mulheres.

Efésios 2.4-5: “Mas Deus, que é rico em misericórdia, impulsionado pelo grande amor com que nos amou, quando estávamos mortos em consequência de nossos pecados, deu-nos a vida juntamente com Cristo – é por graça que fostes salvos!”

João 3.16 – “Deus amou o mundo de tal maneira…..”

2.  A misericórdia de Deus (vs 5). Não merecemos, com já vimos e pode confirmar em Efésios 2 e múltiplos outros textos. – em nos salvar pela regeneração e renovação do Espírito Santo.

3. Jesus Cristo é o meio (vs 6). Em Efésios 1.1-14 Paulo explica o Evangelho, e em quase todos os versículos ele coloca que Jesus Cristo é o meio da graça, da redenção, da salvação.

Deus mandou Seu Filho para tomar nosso lugar. Queridos, que conceito! Cantamos que nunca vamos entender isso, mas eu não concordo. Não entendemos agora, mas quando vemos Ele na glória, o Cordeiro como se fosse morto, a destra de Deus, vamos entender o preço que foi pago! E podemos entender mais agora, se fossemos estudar o Antigo Testamento e ver a seriedade do pecado e o enorme número de sacrifícios que tinham que ser mortos para apagar o pecado. Se fossemos ver a maldição que veio sobre a terra e sobre a humanidade, e entender que na cruz Jesus tomou nossa maldição. Ele tomou nossa condenação e nosso pecado sobre seus ombros, e por isso perdeu o contato com seu Pai por um pouco de tempo, uma agonia para Ele.

Isaías 53 – ler!

Há uma crença que chama “inclusivismo” que creem que pessoas que nunca ouviram o Evangelho de Jesus Cristo podem ser salvos. Mas incluídos neste texto de Tito (especialmente 3:8) e em todos os textos sobre a redenção e salvação, é “em Cristo” ou “por meio de Cristo”. E em Romanos 10:13-15 é necessário crer em Cristo depois de ouvir sobre Ele de alguém enviado. Efésios 1.13 confirma isso quando fala que a salvação é para “aqueles que creem”.

4.  A justificação nos torna herdeiros e nos dá vida eterna (vs 7).

Sem justificação não somos ninguém e não temos nada. Não pertencemos à família de Deus, não temos direitos á herança e estamos sem esperança de vida eterna.

Você tem medo da morte? Crê na vida eterna. Tem certeza? Tem a alegria em saber da nossa herança por causa de Jesus?

Ser crente em Jesus não é brincadeira. Não é para domingo apenas, não é algo com que podemos brincar. É invasivo! É transformador no cerne do nosso ser. Muda totalmente nossas vidas para toda eternidade. E há sinais disso em nossas vidas.

III. A Justificação leva às boas obras (vs 8-11).

Salvação não é um bilhete para o céu. Tornamo-nos herdeiros e filhos de Deus. Em Efésios 4:1 devemos “andar de modo digno da vocação que fomos chamados”. Isto é para todos os crentes. Há resultados de sermos crentes – os que creem. Tito começou este capítulo 3 falando de algumas coisas:

1. Estar dispostos e prontos para fazermos qualquer coisa que seja boa. Isto inclui ser cordiais (vs 2) – não pessoas que criam confusões, falam nas costas, criam altercações. Ser pessoas que exercem cortesia, defere para o outro, trata com respeito e simpatia. Ouve o outro. (Tito 1:5-9, 16 em relação aos pastores e os falsos mestres; capítulo 2 todo. [ler as palavras grifadas na Bíblia Shedd]). Devemos ser temperados, piedosos, amorosos, reverentes, usar linguagem irrepreensível, como em Efésios 4-5, dignos, fiéis, edificando uns aos outros.

2. Não devemos ser pessoas que querem discutir (vs 9) a toda oportunidade sobre Calvinismo e predestinação! Ou discussões intermináveis sobre coisinhas sem importância. Conversas fúteis.

3. Não devemos ser facciosos (vs 10). Em vez de criar panelinhas, facções, divisões – “nós contra eles” – devemos tentar apaziguar, unir, ajudar a compreensão mútua, resolver conflitos.

Ronaldo Lidório falou comigo uma vez que o traço mais importante do líder é saber detectar e resolver conflitos. Não apenas conflitos com ele, mas na equipe. Ele não esconde a cabeça. Se alguém está criando problemas, a pessoa tem que ser confrontada e corrigida.

4. Uma pessoa que não se conserta já mostra que não foi salva (Tt 3.11).

Conclusão

A justificação em Jesus Cristo é nossa mensagem para as pessoas e as nações. Ler 1.1-3 e 2.11-13. Esta mensagem é o assunto da nossa pregação e o motivo das nossas vidas. É a única esperança para os pecadores, separados de Deus, e sem esperança. Por isso Jesus deu o principal mandato para Seus discípulos no final da sua vida na terra com eles – IDE! Não ficam por aqui!! Vocês tem uma missão, e grande. Não ficam brincando, mas mãos à obra!

Graças a Deus, não fazemos sozinhos. Jesus está conosco e temos o poder do Espírito Santo. Além disso, temos a promessa do futuro (1.2 –“ na esperança da vida eterna que o Deus que não pode mentir prometeu antes dos tempos eternos” e 2.13 –“ aguardando a bendita esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus”!)