O Cristão e Missão

Barbara Helen Burns

 

Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: Toda autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as cousas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século (Mateus 28.19-20)

 

Introdução

Jesus comissionou cada cristão a cumprir a tarefa de alcançar o mundo todo com o Evangelho. Quando Ele falou com seus discípulos no final da sua temporada aqui na terra, deixou claro a extrema importância desta missão. Não foi a única vez que Jesus enfatizou a missão dos discípulos e a Igreja de que seriam fundamento, pois falou em Jerusalém no dia da ressurreição (Lucas 24.36-53), nesta montanha na Galileia (Mateus 28.18-20), aonde foram no meio dos 40 dias após a ressurreição, e na Monte de Oliveiras no dia da ascensão (Mc 11.1 e Atos 1.8). Provavelmente falou outras vezes também, pois desde Gênesis está claro que o propósito de Deus é alcançar, através de seu povo, todos as nações, tribos, povos e línguas (Ap 7.9) com o conhecimento, a glória e a salvação.

Além da repetição de Jesus, os escritores do Novo Testamento também falaram da missão de alcançar o mundo com o Evangelho. Todos os quatro Evangelhos e Atos enfatizam as palavras de Jesus sobre a missão. Um assunto de tal importância para Jesus e para os escritores inspirados pelo Espírito Santo de registrar tudo na Bíblia, deve ser para nós também, como Seus seguidores e parte da Igreja que foi resultado da obra deles e do Espírito Santo.

No texto base de Mateus 28.18-20, Jesus explica bem o que envolve a nossa missão: a tarefa, a extensão geográfica e a duração de tempo.

 

  1. A Tarefa na Missão

A explicação da tarefa que Jesus deixou para Seus discípulos ficou muito claro. Se combinarmos todos os textos que registram esta comissão, podemos ter a ideia completa do que se envolve.       

A primeira parte da comissão que podemos pensar é evangelização. Em Marcos 16.15-16 Jesus disse: “Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo, quem, porém, não crer será condenado.” Tem que pregar o Evangelho, a mensagem de salvação, perdão do pecado e transformação para aqueles que creem e aceitam. O Evangelho é “Boas Novas”, uma mensagem de esperança e mudança da vida no presente e no futuro.

Parte integral desta mensagem é a cruz de Cristo e Seu sangue derramado em oferta diante de Deus para nossos pecados. Somos “reconciliados . . . com Deus, por intermédio da cruz, . . .” (Ef 2.16). Paulo disse que não tinha outra mensagem além da cruz de Cristo (1 Co 1.18 a 2.5). As razões que levaram a Jesus morrer numa cruz e derramar Seu sangue, são extensas para este estudo. Recomendo a leitura de Don Carson, O Escândalo da Cruz, (Ed. Vida Nova, 2010). Basta dizer que quando Adão e Eva pecaram, entrou a morte e a maldição no mundo e sobre todos os seus descendentes. Mas Deus deu uma promessa para eles, de um Descendente (Jesus), que reverteria o efeito mortal do pecado e pisaria definitivamente na cabeço do inimigo serpente (Satanás). Jesus tomou sobre si a maldição na cruz e pagou o pecado com o sacrifício propiciatório do Seu sangue. Quando a pessoa crê, envolvendo arrependimento e fé, ele é resgatado e redimido da prisão do pecado e da condenação (Ef. 1.7 e 13, Rm 3.21-25).

Este anúncio e aceitação do Evangelho resulta em pessoas convertidas, ou discípulos. Em primeiro lugar, discípulos devem ser batizados, uma ordem significativo que vale também para pessoas de todas as nações e até a consumação do século.

Em segundo lugar os discípulos devem ser instruídos tanto no conhecimento da Palavra de Deus como em sua prática. Jesus disse: “ensinando-os a guardar todas as cousas que vos tenho ordenado” (Mt 28.20). O que Jesus ensinou? Só podemos entender isso se tivermos um profundo conhecimento do Novo e Velho Testamento, pois Ele sempre baseou seu ensino nas “Escrituras”. Era ensino integral, envolvendo leituras, estudos de história e teologia, e aplicação pratica na vida de pessoas discípulas na nova era depois da vinda de Jesus. Ele chamou a atenção dos discípulos várias vezes, por não conhecer as Escrituras. No final, Ele  disse: “São estas as palavras que eu vos falei, estando ainda convosco, que importava se cumprisse tudo o que de mim está escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos. Então lhes abriu o entendimento para compreenderem as Escrituras” (Lc 24.44-45).         

Se vamos cumprir a missão de Jesus, que ainda está em vigor, não temos o luxo de enviar pessoas que ignoram as Escrituras, o ensino de Jesus e a prática da vida cristã. Infelizmente, isto tem acontecido. Muito desqualificados tem sido enviados para os campos missionários por várias razões, mas quase sempre com resultados negativos. O bom preparo na igreja e em escolas especializadas em teologia e missiologia ajudam a igreja enviar os melhores qualificados para a missão transcultural.

 

  1. A Extensão Geográfica da Missão

Há muita confusão (para não dizer desobediência ou indiferença) em muitas igrejas sobre a extensão da missão de Jesus. As igrejas ficam preocupadas com seus próprios programas, com o bairro próximo da igreja, com seu próprio crescimento, com construções e, as vezes, luxo. Excesso de dinheiro é gasto em iluminação, som, decoração, acabamento agradável, e, da parte dos membros da igreja, suas próprias roupas, condução, moradia e estilo de vida. Um pouco de tudo é necessário, mas quando esquecemos da missão, vamos faltar suficiente para o envio e sustento de pessoas chamados por Deus para alcançar aquelas partes do mundo que nunca ouviram o Evangelho ainda. A igreja não consiste em pedras e luminárias, mas em pessoas. O crescimento da igreja que Deus quer é o aumento de pessoas que ouvem o Evangelho e aceitam pela fé, ajuntando aos outros na comunidade cristã. A missão de alcançar os confins da terra é central e prioridade máxima no uso de recursos.       

Quando Jesus disse para alcançar os confins da terra, ou alcançar todos os tribos, povos, línguas e nações, Ele não deixa ninguém de fora. Em Atos 1.8 Jesus disse que a missão é tanto em Jerusalém, como Judéia, Samaria e até aos confins da terra. Temos que nos preocupar com os vizinhos, com o centro urbano, com os amigos e familiares, com pessoas em regiões ou estados próximos, com pessoas de outras nações políticas e com cada povo e tribo escondido e não alcançado na selva ou nas ilhas do mundo. Temos que nos preocupar com as pessoas em países fechados e perigosos na oração, na ajuda e no envio de pessoas dispostas a darem as suas vidas para alcançar todos incluídos nos propósitos de Deus.           

A razão que levou Jesus dar a missão para os discípulos é porque as pessoas sem o Evangelho não tem salvação. São pecadores e precisam de perdão e transformação. Romanos 1.18-20 disse que ninguém, nenhum homem ou mulher, tem desculpa diante de Deus, mesmo os que nunca tiveram oportunidade de ouvir a mensagem. Todos são pecadores e carecem a glória de Deus (Rm 3.23). Graças a Deus, Ele “amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3.16). Esta é a mensagem: “… e que em seu nome se pregasse arrependimento para remissão de pecados, a todas as nações, começando de Jerusalém” (Lc 24.47).

 

  1. A Duração de Tempo da Missão

            Apesar da crítica de alguns escritores sobre o fato que os discípulos ficaram em Jerusalém um bom tempo, e não foram para a missão até depois de um bom tempo, quando todos foram para outros lugares (menos Tiago, que foi morto em Jerusalém), a verdade é que eles serviram o Senhor em Jerusalém até o tempo determinado e até que fossem discípulos maduros formados, como Barnabé, Silas, Estevão, Felipe, etc. Quando a perseguição começou e os membros da igreja foram dispersos, foram capazes de explicar tudo que tinha acontecido e a razão. Milhares de pessoas se converteram através destes testemunhos, até gentios na região de Antioquia (At 11.19-21). A igreja formada em Antioquia, por sua vez enviou Paulo e Barnabé para a primeira viagem missionária. Deste viagem Timóteo se converteu, que, depois de um tempo, se tornou missionário também. Este processo continuou, não parou no primeiro Século, nem em Jerusalém.

Jesus disse que estaria com eles nesta missão até a consumação do século. Isto é uma expressão que significa, não o primeiro século, mas o final dos tempos. Dura até Jesus voltar (At 1.11). Mateus 24.14 disse: “E será pregado este evangelho do reino por todo mundo, para testemunho a todas as nações. Então virá o fim”.   

Nós não podemos parar agora! O papel da igreja é levar o Evangelho as nações, algo central e prioritária. Seja que for o sacrifício, até das nossas próprias vidas, como tem acontecido com milhares de missionários, inclusive os primeiros discípulos, não podemos recuar diante da ordem do Senhor das nossas almas!

 

Conclusão – Jesus Está Conosco em Cumprir nossa Tarefa           

Graças a Deus, esta tarefa enorme não fazemos sozinhos. Lucas descreve a promessa do Espírito Santo em Lucas 24.49 e Atos 1.8. Além disso temos a presença do próprio Jesus, conforme a promessa de Mateus 28.20. A missão é de Deus, não é nossa, mas temos que obedecer o mandato e buscar o poder do Espírito Santo para cumpri-lo. Assim alguns vão ser enviados pessoalmente para falar e ensinar (apóstolos, evangelistas e mestres), e outros vão ficar em casa, mas totalmente envolvidos na missão pelas orações, sustento e apoio.           

A igreja deve ser conscientizada desta grande missão, começando com a Escola Bíblica Dominical e as idades mais novas. Mensagens, aulas, pedidos de oração, projetos, ofertas, correspondência com e visitas de missionários deve fazer regularmente parte da vida da igreja e dos cristãos.

 

Perguntas para refletir

  1. A “Grande Comissão” foi de prioridade máxima para Jesus? Qual é a sua prioridade na sua vida ou na sua igreja?
  1. Temos cumprido a “Grande Comissão”? Por que não?
  1. O que podemos fazer, em termos concretos, para começar cumprir melhor o mandamento do Senhor?

 

Originalmente publicado em:

Publicado na Revista da Escola Dominical da Igreja Evangélica Pentecostal do Brasil