O Papel da Igreja em Missões

Barbara Helen Burns

 

“É a Junta ou a Agência Missionária que tem o papel missionária, não a igreja!” Assim pensam muitos, se desligando de qualquer responsabilidade, e perdendo uma oportunidade de obediência e benção. Do outro lado, recentemente há igrejas dizendo que sozinha vão mandar missionários, sem nenhum auxílio de uma junta ou agência especializada. Mas nem todos os membros das igrejas delegam missões às Juntas de Missões Mundiais, Nacionais, ou Estaduais, dando apenas uma oferta por ano. E nem todas as igrejas estão agindo independentemente de ajuda dos profissionais na área. Tive o privilégio de ser criada numa igreja onde missões era central em todos os seus propósitos. Os membros nunca sentiam mais felizes do que quando enviando um dos seus membros para um campo distante, ou contribuindo para que o nome do Senhor Jesus fosse proclamado perto ou ao redor do mundo. Era uma igreja que conhecia profundamente a base bíblica e a estratégia e importância de missões, mas trabalhava em parceria com agências missionárias. A agência principal que a igreja utilizava também compreendia o papel fundamental da igreja, fazendo com que os únicos candidatos aceitos eram pessoas aprovadas, enviadas e sustentadas por suas igrejas locais.

O primeiro modelo de uma igreja enviadora se acha em Atos 13.1-4. O Espírito Santo enviou, por intermédio da igreja local, os dois homens mais preparados e queridos no seu meio. Jesus mesmo disse que a razão da existência dos Seus discípulos (os membros e líderes das igrejas) era pregar o Evangelho à toda criatura–de Jerusalém até aos confins da terra! Jesus tinha preparado Seus discípulos por três anos com esta finalidade, e no fim deu a ordem prioritária para eles, e para todos que vinham depois deles. Missões é a responsabilidade de todos os discípulos de Jesus Cristo, e a razão central da existência das igrejas.

As juntas de missões foram estabelecidas para ajudar as igrejas cumprir a vontade de Deus em fazer missões. Mas há coisas que as juntas não podem fazer, que são a responsabilidade das igrejas. A seguinte lista fornece uns exemplos daquilo que cabe as igrejas no plano missionário de Deus.

1. A responsabilidade do preparo. O contato longo, o ensino da Palavra, a vida em comunidade, e o crescimento mútuo de Cristãos que se amam e ajudam uns aos outros viver dignamente do Senhor é a melhor escola missionária. O missionário vai levar junto com ele para os campos o modelo que fez parte da sua formação cristã, repetindo e imitando aquilo que experimentou e viveu (muito mais do que ele aprendeu numa escola formal). Como é importante este modelo ser de uma igreja que serve fielmente o Senhor no seu próprio trabalho evangelístico e discipulado na vida cristã!
A prática do ministério, como Deus deu para Saulo e Barnabé antes da sua primeira viagem missionário, só pode se obter numa igreja. Deverá existir oportunidades de exercer um ministério dentro da comunidade de Deus. Os colegas e líderes de uma igreja conhece os dons, os problemas, e as áreas de necessidade dos seus membros, dando base para aconselhamento, direcionamento, e crescimento quanto vocação ministerial.

2. A responsabilidade da escolha. Assim são as igrejas que podem reconhecer aqueles que são verdadeiramente aprovados nas suas práticas e sua vida cristã. Conhecem profundamente o candidato, e devem com toda honestidade recomendar ou não as pessoas para missões. Faz parte desta responsabilidade o conhecimento das qualificações necessárias para um obreiro em missões. É preciso enviar as pessoas certas, que darão fruto em situações às vezes difíceis de comunicar e viver.

3. A responsabilidade do envio. Em Atos 13 o Espírito Santo não falou apenas com Saulo e Barnabé; falou com a igreja. Foram membros da igreja que colocaram suas mãos sobre os dois, assim declarando sua solidariedade e identificação com eles. Eram embaixadores daquela igreja, conforme a direção do Espírito Santo. As igrejas hoje devem estar alertas para saber a vontade de Deus sobre seus membros. Que privilégio Deus dá a igreja em usá-la para enviar seus melhores membros a serem pioneiros em campos sem a Palavra e o conhecimento de Deus.

4. A responsabilidade do apoio. Depois de longos anos de serviço frutífero, Paulo ainda reconhece a absoluta necessidade de apoio em oração. Em Efésios 6:18-20 ele diz para a igreja:

Orando em todo o tempo com toda a oração e súplica no Espírito, e vigiando nisto com toda a perseverança e súplica por todos os santos, e por mim; para que me seja dada, no abrir da minha boca, a palvra com confiança, para fazer notório o mistério do evangelho, pelo qual sou embaixador em cadeias; para que possa falar dele livremente, como me convém falar.

Paulo sabia que sem a oração, nem ele teria sucesso em missões!

A responsabilidade não termina com oração; apoio financeiro também é um importante ingrediente para missões. Paulo menciona este fato várias vezes, especialmente em Filipenses 4:10-20, onde ele agradece a oferta sacrificial dos irmãos pobres da Macedônia. A oferta foi uma benção para ele, porque supriu necessidades e demonstrou o amor e a solidariedade da igreja com ele. Acima de tudo foi uma benção para a própria igreja, porque a oferta foi como uma dádiva a Deus, colocada na conta celestial da igreja.

Assim temos o desafio e as responsabilidades missionárias das igrejas. Mas como fazer? Quais alguns passos práticos?

1. Mensagens e ensino missionário. É difícil estudar a Bíblia sem estudar missões. Se enfatizamos missões à medida que a Bíblia o faz, a igreja estará crescendo no seu conhecimento de como e porque fazer missões.

2. Testemunhos dos missionários. Devemos convidar missionários a pregarem e ensinarem nas igrejas, encorajando os membros a convidá-los a se hospedarem nas suas casas. Devemos ser membros de igrejas que se alegram com a presença e o trabalho dos missionários.

3. Oração semanal em favor de missões e os missionários. Cada culto deve incluir um momento da igreja levar as necessidades dos missionários a Deus em oração. Podem ser lidas cartas, artigos em jornais, informações missionárias, que ajudarão os membros se envolverem pessoalmente na vida dos missionários e nas necessidades ao redor do mundo.

4. Convenções missionárias. Missões podem ser enfatizadas de uma forma especial uma ou duas vezes por ano. Pessoas de todos os departamentos da igreja podem participar e tomar responsabilidade de dirigir e compartilhar.

5. Conselhos missionários. Se a igreja for grande, um grupo pode se formar para informar e ajudar a igreja no conhecimento e prática de missões. O conselho não deve se tornar mais uma “junta,” mas sim, levar a igreja toda tomar decisões e se envolver no preparo, na escolha, e no apoio de missionários.

6. Ser modelo de missões. Uma igreja ativa na evangelização e discipulado não apenas oferece oportunidades de prática de ministério, como se torna o modelo ideal que o missionário vai repetir em outros lugares. Cada igreja deve procurar expandir ao seu redor, formando pontos de pregação e congregações. Assim a igreja providencia oportunidades de treinamento e envolvimento pessoal no ministério da igreja enquanto está cumprindo fielmente o propósito pelo qual foi criada.

Modificação do artigo publicado no Jornal Batista de São Paulo, 26/02/90.