Missionários-Educadores

Refletindo sobre o legado daqueles que viveram entre nós

“Sede meus imitadores como eu sou de Cristo” (1 Co 11:1)

Betel Brasileiro (João Pessoa): CENAM

05/05/2017

Barbara Helen Burns

Jesus mandou Seus discípulos a todo mundo fazer discípulos, ensinando a guardar tudo que Ele tinha ensinado. Muitas vezes não levamos isso a sério. Igrejas mandam missionários que não conhecem o que Jesus ensinou, nem guardam. Para cumprir a Grande Comissão em Mateus, temos que ter missionários que conhecem bem toda

Refletindo sobre o legado daqueles que viveram entre nós Palavra de Deus (pois é isso que Jesus ensinou) e seguem com muita intensidade estes ensinos nas suas vidas. Estes são os critérios mínimos.

Além disso, é necessário ter a capacidade de ensinar tudo isso – ensinar pelo modelo e pelas palavras, exatamente o que Jesus fez. Uma parte mínima do ensino de Jesus foi o método de palestras. A maior parte foi no caminho, perguntando, questionando, esclarecendo à medida que andava junto com seus discípulos. Ele ensinava através de parábolas, confrontos, sinais e milagres, compaixão e exortação. No fim Ele morreu a vista de todos e ressuscitou para passar 40 dias finalizando o ensino.

Depois de Jesus e seus discípulos, aparece outro discípulo destacado – Paulo, o apóstolo. Ele entendeu a Grande Comissão e a cumpriu de forma marcante. Ele também ensinava no caminho, na evangelização, nos confrontos, nas perguntas, nos sinais e milagres, na compaixão e exortação. Ele também proferiu palestras, mas a grande parte do seu ensino foi também no dia a dia com sua equipe e com os novos convertidos. Graças a Deus, uma parte foi registrado e está no cânon, que chegou até nós intacto. Por isso, quando ele fala para os crentes em Corinto: “Sede meus imitadores, como eu sou de Cristo”, podemos assumir como para nós também. Jesus é o grande modelo; Paulo é modelo naquilo que ele imita Jesus. Nós devemos imitar Paulo neste sentido também.

O que significa isso? Depois de Paulo, quem foram os missionários que imitaram Jesus e Paulo nas suas vidas, ensino e ministério?  Em primeiro lugar, vamos examinar este texto para ver o que significa.

1. 1 Coríntios 11:1 está escrito num contexto específico. Paulo acabou ensinando sobre o problema de comer, ou não, carne oferecido para ídolos em capítulos 9-10. Era proibido expressamente cometer idolatria, mas o comer, ou não, dependia de significados para quem come e quem presencia o comer. Não é fácil, e nestes capítulos Paulo ensina profundas verdades sobre contextualização e como a igreja deve decidir o que está certo e errado. Ele ensina princípios fundamentais.

É seguir estes princípios que Paulo pede para ser modelo imitado. Ele faz tudo para a glória de Deus (10:31), não a sua própria. Ele não está preocupado consigo mesmo, mas que as suas ações levam as pessoas exaltar Deus.

Ser escândalo impede Deus ser glorificado. Envolve questões secundárias, brigas e disputas. Fere as pessoas. Ele não quer nenhum motivo para escândalo e está disposto a se dobrar e a abrir mão de todos os seus direitos a fim disso.

Finalmente, ele quer agradar todos, em vez de buscar os próprios interesses. O que ele realmente quer é a salvação do maior número de pessoas possível. Ele está em busca de almas, não de fama, vanglória ou conforto. Ele não está a fim de defender seus próprios direitos e liberdades.

É nisso que os Coríntios, e nós, devemos imitar Paulo, pois ele tem como exemplo a Jesus, que fez a mesma coisa. Isto é o significado deste versículo. Podemos ainda acrescentar outros versículos que falam a mesma coisa.

2. Outros textos que falam de imitar Paulo.

Além de 1 Coríntios 11:1, Paulo fala em imitá-lo em 1 Coríntios 4:16: “Admoesto-vos, portanto a que sejais meus imitadores”. Ainda contra os falsos apóstolos, Paulo reivindica que ele é o pai desta igreja. Eles são filhos amados dele, não dos novatos heréticos. A prova disso é que foi ele que sofreu para levar o Evangelho para eles como despenseiro fiel a Deus (1 Co 4:1-15).

Outro texto é Filipenses 3:17: “Sede também meus imitadores, irmãos, e tende cuidado, segundo o exemplo que tendes em nós, pelos que assim andam”. Mais uma vez ele está se comparando como os falsos mestres que querem destruir a igreja e a mensagem da cruz. São “inimigos da cruz de Cristo” (3:18). Por isso é essencial seguir o exemplo de Paulo, não dos inimigos. Imitar Paulo neste texto é prestar atenção ao modelo dele em perseverança, humildade em saber que não é perfeito ainda (apesar de justificado e perfeito em Cristo [vs 9 e 15]) e foco tão intenso em Cristo que toda sua vida, bens, status, conforto e segurança ele deixou para trás (3:8-16).

Filipenses 4:9 é outra referência: “O que também aprendestes, e recebestes, e ouvistes, e vistes em mim, isso fazei; e o Deus de paz será convosco”. Os filipenses eram bem diferente do que os coríntios, apesar de não perfeitos. Mas Paulo está levando a igreja a paz, alegria e gozo. Ele está contente com sua vida e com o que tem, não importante com as perdas nem com os ganhos, e os filipenses também. Eles aprenderam com seu exemplo e suas palavras, e estão seguindo.

3. 2 Tessalonicenses 3:7-9: “Porque vós mesmos sabeis como convém imitar-nos, pois que não nos houvemos desordenadamente entre vós. Nem de graça comemos o pão de homem algum, mas com trabalho e fadiga, trabalhando noite e dia, para não sermos pesados a nenhum de vós. Não porque não tivéssemos autoridade, mas para vos dar em nós mesmo exemplo, para nos imitardes”. Neste texto ele é exemplo de trabalho, de participar, de não ser explorador dos outros. Mais uma vez ele aponta a sua falta de egoísmo e sua preocupação com os outros. Não pode ser preguiçoso!

E o que os versículos não significam?

1. Não significa obedecer qualquer líder. Inclusive Paulo escreve as cartas aos coríntios para fazê-los não obedecer seus líderes falsos. Falsos apóstolos tinham entrado e tomado as rédeas da igreja indevidamente.

2. Não significa seguir pastores que não ensinam a verdade. O autor de Hebreus 13:7 diz: Lembrai-vos dos vossos pastores, que vos falaram a palavra de Deus, a fé dos quais imitai, atentando para sua maneira de viver”. Somo este texto com 1 Pedro 5:1-5: “Aos presbíteros, que estão entre vós, admoesto eu, que sou também presbítero com eles; testemunha das aflições de Cristo, e participante da glória que se há de revelar: Apascentai o rebanho de Deus, que está entre vós, tendo cuidado dele, não por força, mas voluntariamente; nem por torpe ganância, mas de ânimo pronto; Nem como tendo domínio sobre a herança de Deus, mas servindo de exemplo ao rebanho. E quando aparecer o Sumo Pastor, alcançareis a incorruptível coroa de glória. Semelhantemente vós, mancebos, sede sujeitos aos anciãos; e sede todos sujeitos uns aos outros, e revesti-vos de humildade, porque Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes”.

Não há sinal que a liderança dos pastores é absoluta, a ser seguida cegamente. Ele deve servir o Senhor com humildade, reconhecendo que tem o Pastor absoluto, que é de todos.

3. Discipulado não é apenas ouvir e obedecer ao que ouviu. É imitar o que observou e experimentou. (SEPAL vs Jesus) O discipulado de Jesus e de Paulo era dinâmica, vivida e relevante. Os discípulos viviam com os discipuladores. Eles observavam a sua vida, reações, motivos, ensino e relacionamentos. O verdadeiro discipulador quer se multiplicar nos discípulos. Não é apenas ensinar fatos, dados, mas como chegar os fatos, porque são importantes e como devem ser aplicados como princípios em todos os aspectos da vida.

A luz destes textos, o CENAM tem o propósito de examinar a vida de alguns missionários contemporâneos no Brasil – Ernestine Horne, Lídia Menezes e Russell Shedd. Como introdução, como poderia contemplar os exemplos deles para nossas vidas?

Os exemplos de Lídia Menezes, Russell Shedd e Ernestine Horne para nós

  1. Dona Lídia

Conheci Dª Lídia em 1972 num Congresso de Avivamento em Cianorte, Paraná. Ela se hospedou na minha casa e pude observar sua vida de perto aqueles dias. Depois visitei ela em João Pessoa várias vezes, dei aula no Betel e participei de algumas conferências missionárias. Fiquei na casa dela no Alto de Mateus, antes do seminário feminino mudar para lá. Era deserto naquela época. Também estive com ela em vários eventos internacionais missionários.

Uma coisa que me impressionou sobre a vida de D. Lídia e algo que queria imitar, foi o amor pela Palavra de Deus e a autoridade com que ensinou. Ela tinha o poder do Espírito Santo na sua vida e ensino. Vocês que conhecem ela desde o início já sabem. Jesus era tudo para ela e o desejo dela foi que os alunos betelinos fossem seguir nos seus passos em servir Jesus com poder e com autoridade na Palavra.

2. Russell Shedd

Conheci bem o Russell Shedd. Ele me hospedou na casa dele quando cheguei no Brasil e a sua família continuou sendo como família para mim até a sua morte em novembro. Todos nós o conhecíamos. Ele não somente amava a Palavra, mas continuamente a estudava. Ele conhecia de cor praticamente o Novo Testamento e podia comentar qualquer texto instantaneamente. O ensino tinha autoridade de alguém que conhece e segue as verdades bíblicas na sua própria vida. Posso atestar da verdade disso, conhecendo ele em todos os aspectos da sua vida.

Shedd queria que os seus ouvintes também conhecessem a Palavra, tanto que ele foi sempre capaz de colocar as suas verdades em termos relevantes e contundentes as nossas vidas. Ele fez a Bíblia Vida Nova, com todos os seus comentários, para alcançar o público que não tinha acesso a um seminário teológico, pessoas do sertão, pessoas pobres ou de igrejas que negavam educação teológica para seus pastores.

Russell Shedd foi um exemplo marcante para nós de sempre crescer com excelência e cuidado o conhecimento e ensino da Bíblia.

3. Ernestine Horne

Conheci D. Ernestine bem menos do que os dois, mas o que observei marcou minha vida. Primeiro, quando dei aula no Betel a primeira vez (talvez 1975), vi algo que nas outras escolas onde ensinava não acontecia. Cada vez que me referia um texto bíblico, ou fazia perguntas no texto, todos os alunos olhavam PARA O TEXTO. Incrível, mas isto não é comum na minha experiência, até agora. Reconheci que era a influência de D. Ernestine.

Fui para vária igrejas congregacionais em João Pessoa. Quando perguntava sobre a história da igreja, quase todos falaram que começaram com um estudo bíblico no lar com D.Ernestine.

Tudo isso era resultado de uma vida de discipuladora. Começando em Patos, onde ensinava meninas como ler e escrever, para poder entender a Palavra, até o Instituto Bíblico Betel em João Pessoa, que eventualmente passou para sua discípula Lícia Menezes.

Dona Ernestine ensinava a Palavra para outros que poderiam ensinar outros (2 Tm 2.2). Isto aconteceu, com igrejas novas, alunos pastores e missionários no sertão e espalhados ao redor do mundo. Ela conscientemente se multiplicou, como Jesus, Paulo e Timóteo.

Conclusão

Que nós também possamos aprender com estes modelos e segui-los naquilo que seguiram Jesus. Graças a Deus que ainda existem pessoas hoje com quem podemos aprender, não somente com suas palavras, mas com suas vidas e ações.

Que Deus nos ajude ser assim também!